domingo, 18 de abril de 2010

Força do desejo

O dia amanheceu azul. Na véspera olhara para o céu e ao ver tantas estrelas imaginou que o dia seguinte seria de céu limpo. Mas não que para ele fizesse alguma diferença se o tempo fosse de chuva ou não. Passaria o dia estudando, trabalhando e ... pensando.

Tinha decisões a tomar e sempre que se dedicava a resolver tais problemas doía-lhe a cabeça. Para um homem voltado à razão, pensar a emoção era exaustivo. Podia escolher o caminho mais fácil – dizer não à mudança – ou se embrenhar no que parecia mais difícil, mas cujas chances de satisfação eram bem maiores.

Dizia pra ele mesmo que não tinha medo, que “mudanças” não o assustavam, mas relutava em trilhar a direção apontada por um sentimento que acelerava seu coração e lhe dava uma doce euforia.

Desejava seguir o caminho do sentimento, mas se negava a caminhar nele. Não se dera conta, ainda, que a angústia crescia à medida que ia contra o seu desejo. Se andasse a favor do que sentia, as soluções apareceriam, certamente.

Quando a noite chegou intensa de escuridão, escreveu uma carta. Era pra ser uma despedida. Disse tantas coisas que não queria e que sabia não conseguiria falar se contemplasse o olhar e sorriso dela. Ele se sentia tão inteiro ao lado da mulher que dizia amar que ao partir deixava de estar completo. Mesmo assim enviou-lhe a correspondência.

A carta chegou no dia seguinte. Ela leu cada linha. A natureza, solidária ao pranto de seu coração, chorava lá fora. Doía saber que o que ele dissera era o contrário do que ele gostaria de ter dito. Ela sabia que uma parte dele estaria incompleta, talvez pra sempre. E uma parte dela, também.

O dia seguinte poderá chegar ensolarado. Sol lá fora e dentro deles. Afinal, o escrito na carta foi dito sem desejar.

Por Fátima Nascimento; texto escrito em dezembro/2008

4 comentários:

  1. É que, pra seguir a rota que o coração deseja, não podemos ter medo de voar.

    E temos que saber voar.

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  2. o desejo é o nossa lada mais sincero, o que de longe nos faz lembrar de perto que não somos nem um pouco racional

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  3. Fátima. Façanha fascinante a sua fala. Que façam-se os fachos de sol fagueiros na sua pena afável. Obrigado! Kenny Rosa (cronicando)

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