domingo, 18 de abril de 2010

Antes que seja tarde

Uma música suave tocara no rádio. Era a histórica “Love Me Tender”, estreada por Elvis Presley em 1956. Imediatamente ele se lembrou dos momentos que passara ao lado da mulher que o atraía de uma forma que não sabia explicar ou conter. “Podia ter cantado essa música ao seu ouvido”, pensou. Na última vez em que se encontraram improvisou uma letra numa canção. Soou como uma declaração de amor. Ela gostou, e muito. Uma crítica suspeita.

Aquela mulher gostava de tudo nele: de suas mãos, seus braços, pernas, olhar, sorriso, palavras e volúpia. Também estava atenta ao seu interior e admirava o que conhecia, mas gostaria de saber mais. O que aquele homem dissera através da canção que criara quando se olhavam com imensa ternura, faria mais sentido se o impulsionasse a agir na direção apontada pela emoção.

O que os dias seguintes reservavam eram de uma incógnita cruel. Não sabiam se estariam juntos novamente. Cada encontro podia ser o último e – embora nada dissessem a respeito – os minutos finais eram sombreados pela tristeza e antecipada nostalgia. Era estranho como a saudade despontava ainda estando juntos.

Love Me Tender continuava a tocar no rádio. O pensamento dele viajou com doces lembranças e certa euforia no corpo. De repente o locutor pôs-se a traduzir a canção de Elvis Presley e ele concentrou sua atenção na letra, que dizia:

Me ame com ternura,/Me ame com doçura,/Nunca me deixe partir./Você tornou minha vida completa,/E eu te amo tanto./Me ame com ternura,/Me ame de verdade./Todos os meus sonhos realizados,/Porque, meu amor, eu amo você,/E eu sempre amarei./Me ame com ternura,/Me ame por muito tempo./Leve-me ao seu coração,/Pois é lá que eu pertenço./E nós nunca nos separaremos./Me ame com ternura,/Me ame, querida./Diga-me que você é minha,/Eu serei seu durante todos os anos,/Até o final dos tempos”.

Era exatamente isso que ele queria ter dito pra ela. Olhou para o telefone. Marcaram um encontro. Não mais houve a sombra da despedida e nem a prematura saudade.

Por Fátima Nascimento; texto escrito em agosto/2008

Um comentário:

  1. Desconhecemos o poder das músicas, das linguas, das linguagens.
    Profundo.
    Kenny Rosa

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